segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Pode começar amanhã?

Por Bárbara Medeiros

Acordar, levantar, tomar café, - ah... o primeiro trago da manhã... - pegar o ônibus, chegar, trabalhar, almoçar, trabalhar.

Pegar o ônibus, jantar, deitar, dormir. Final de semana família, amigos, namorado, casa, limpeza, álcool... ah, que dor de cabeça!

Segunda acordar, levantar...

 TrimtrimtrimtrimTRIMTRIMTRIM

-Alô?

A voz trêmula deu a notícia.

Ela fez a única coisa que lhe ocorreu: Avisar que não poderia ir trabalhar naquele dia.

- Hoje não vou trabalhar. Meu pai faleceu.

No outro dia a mesma coisa. A mesma rotina. Sempre repetindo, repetindo, repetindo. Até onde? Até quando? Para quê? Por quê? Ahhhhh, pro inferno com tudo isso! Eu vou é viver! Viajar, conhecer, descobrir, beijar, beber, gostar, amar, explorar, enxergar, ouvir, sentir.

Não quero ser mais uma dessas que passa pela vida. Eu quero VIVER A VIDA!

Ele faleceu com 60 anos de idade, sem nunca ter saído do país. Sem ter visto a própria terra de novo. Não fez um curso de inglês, não se apaixonou, não errou, e nem acertou. Apenas sobreviveu.

E eu? Eu? Eu estou seguindo a cartilha dele.

Quantas e quantas vezes eu não reclamava com ele da sua falta de intensidade?

-Pai, você precisa sorrir mais, brigar mais, conversar mais!

Ele sempre me respondia com um sorriso no olhar, mas não nos lábios, e me dizia que o mundo tinha se tornado um lugar distante para ele.

Só o seu próprio universo era a sua casa. Eu não. O mundo é minha casa!

Mas antes... uma olhada rápida no Facebook. Não posso abandonar minha rotina assim! O que as pessoas vão pensar? Olha, a Ana Claudia está namorando... Credo que feio! Nossa, que site legal. Preciso comprar essa saia. Essa frase dá um twitt.

Ok, agora posso ir. Ah não, esqueci! Meu Deus, como fui me esquecer disso? Preciso responder meus e-mails! Tenho um projeto para entregar amanhã, e esqueci completamente de avisar o cliente do local da apresentação. Ah não, outro e-mail dessa assessora não, vou encaminhar para o Daniel, ele que resolva.

Dar uma última verificada no trabalho que levou meses para ser terminado, mas que com certeza ainda terá milhões de modificações. Ok, tudo pronto, só falta colocar o relógio para despertar, não posso me atrasar para o trabalho amanhã.

A vida que eu ia começar? Ah, ela pode esperar. O que tinha de importante nela já se foi, e agora eu estou cansada demais para entender o mundo aí fora.

Prefiro o meu universo. Ele é a minha casa.

Um comentário:

Aline Lacroc disse...

Nossa.. realmente, a gente se apega à rotina e esquece de que devemos viver cada dia como se fosse o último.
Beijos